10 agosto, 2016

Inverno d'Italia

a B. F.

"Dead men, re-arisen from dust, may hark
When rings the trumpet blown above:
It will not raise from out the dark
          Dead love."
C. A. Swinburne

Glicério, Centro: primeiro encontro num café. O fast-food em frente não constrange a entrada dos clientes que venha a ter, mas este café o faz: a entrada se afunila em um balcão que quase vende a céu-aberto; duas mesinhas dois-lugares, sob as quais mal cabem pernas. Há segundo piso, porém. A obrigação de subir escadas revela meus passos tímidos e apressados, pedido que balança na bandeja. Subi na ponta dos pés. Os pedidos, chá e chá. Nessa cidade, ter consciência é recusar café. 
Conforto: sofás onde sentar, esparramar-se, as mesas ainda pequenas, muito gelo nos copos. É verão, ou quase. Já estive aqui e aprecio. Este café é mostrar muito de mim. A mim mo apresentou amiga de longa data: um convite de amizade que lhe aqui estendi. Falamos muito. Mais do que devíamos, será?... Não saberei.
Houve outro encontro e houve. Lembro as costas do ônibus que a levou. Lembro as suas também. Pouco importa. A imagem que fica é dos copos sobre a mesa-mesinha, verão-ou-quase, o gelo-gelo, gelo que derrete, gelo que não, gelo que fica, contudo. Inverno morno d'Italia, inverno da Roma que me persegue: seus poetas, seu direito. E o seu. Sua queda, a minha. Soube que se o café fechou depois, como seus lábios fecharam-se, como fechei-me, a cidade. Mesmo após a queda, ficará de Roma a memória e o silêncio que lhe há de honrar a tumba. Silêncio, silêncio...


Campinas, Julho de 2016.

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