sobre o blog


Composição não se ensina, aprende-se. É o que dizem muitos, e concordo em grande parte com a máxima. Mas como se dá o aprender de algo que se não pode ensinar? A pergunta parece traiçoeira e o é: engana-nos por se fazer passar por tal - como? Escrevendo. Compor versos, quadros, músicas, romances, filmes ou uma receita qualquer para o domingo à tarde, tudo isso passa, inevitavelmente, pela praxis, pelo exercício mais ou menos regular da criação. Esse exercício, porém, não possui nada de irrefletido, e passa longe do espasmo - a disciplina envolvida em seu desenvolvimento é, em maior ou menor grau, aquela dos militares. Não se faz dizer com isso que a arte acontece batendo continência: mas o comprometimento com a obra, independentemente da regularidade de sua produção, beira o sufoco de uma penitência imerecida de cem flexões. Mas major e cadete dividem, neste caso, o mesmo corpo. Mas escrever, escrever basta? Não. Não se pode escrever qualquer coisa. Há uma necessidade bastante específica que só se pode suprir pelo êxito em algum dos objetivos escolhidos pelo autor.
Há também outro fator. Ninguém pode dizer como compor, mas pode dizer como comporia. A resposta, principalmente de outro criador, a uma obra é muito importante em nosso processo de criação. Pode a intervenção alheia causar as mais diversas desavenças, mas tenho certeza de que, apesar de todos os males que pode ocasionar essa troca, quando bem sucedida, é de uma importância capital na formação do artista. Além do mais, quando se considera uma orientação estúpida, pode-se ignorá-la totalmente: saber ao que dar ouvidos é outro aprendizado indispensável ao artista. Mas para isso, é preciso retorno! Por isso o Blog: incentivar minha produção, organizá-la e documentá-la, e torná-la publica e acessível, para que possa obter disto tudo algum retorno e aprimorar-me em meu ofício.

Praxis-idiossincrasia bulímica. Sabe-se já o porque da primeira. Idiossincrasia? Ambas se ligam. Se a praxis é fundamental à evolução de artista qualquer que seja, outra coisa acaba por se fazer importante: a maneira como este cria. Esta é a idiossincrasia, que se poderia chamar estilo, autoria ou mesmo autoridade. O artista busca, de alguma forma, ser dono de sua obra: para isso, cada vez mais tenta saturá-la de si, do que julga ser, muitas vezes se esquecendo de que dentro de si reside toda uma história, uma trajetória e um aprendizado que denunciam sua autonomia. Repertório - as respostas que recolhemos dos mortos, ou dos vivos inacessíveis, através de suas obras, testamentos dos quais somos beneficiários. Elucidada está, a praxis-idiossincrasia...

Bulímica?
Sobre o fardo da criação: sou vomofóbico. A bulimia me seria uma tortura. Mas se relaciona fortemente com minha ideia de necessidade da criação apesar da dor que implique. Uma vez me disseram ser o medo de vômito a somatização do medo de si mesmo, o pavor do auto-conhecimento, da expressão da interioridade: acredito. Por isso, bulímica. Um alívio temporário de por algo para fora, que não bastará, e que, tão logo algo que eu coma me afete, resultará na necessidade, mesmo paranóica, de expulsá-la de mim, junto comigo.

Praxis-idiossincrasia bulímica. Escrevo.

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P.S.: todo esta elaboração só serviu para obtenção de um nome impossível de se encontrar nas buscas de internet, o que destruiu grande parte dos meus planos, ao dificultar severamente o acesso ao Blog por terceiros.

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