12 outubro, 2015

desabafo


cansei
dou por vencido
de quantas vezes já tentei perdi a conta
flertar co'a epopéia

e que dureza aproximar-se
da flexionada princesa!
menos penoso me parece até
o genuflexório cristão
mas também com ela o perdão pratico!

lanço declinações dos pessoais pronomes
latinos e esta esnobe
faz do meu nostri, nostrum
sibi do meu tibi e sibila-me
epigramas obscenos
de escárnio e de maldizer

pratico o perdão!

arrisco um verbo, que desastre
um verso de Horácio
ela responde Juvenal

perdão!
de passo em passo, quase me fiz santo

até que certo dia
douto pela dor em línguas mortas
vi escorrer da diva pelo rosto
uma sinuosa lágrima

que lástima! caía torta
não porque fosse triste
mas porque as rugas desta face antiga

se me fizeram ver
e que a epopeia alegre que outrora perseguia
que ria e me esnobava
não era flor de poema nem vivia
em livros

vi-lhe a vida pela vida
nos cinemas nos teatros
nos programas de tv
velha barroca pérola
atirada aos porcos.

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