"Aussi, comme un damné qui rôde dans l'enfer,
Pour l'inepte plaisir de cette multitude
Il allait et venait dans sa cage de fer,
Heurtant les deux cloisons avec sa tête rude."
Leconte de Lisle
Eu sei, ela não lembrará...
Noite, teto, ventilador imóvel, ar imóvel. O tempo. Sem-luz: sombras, penumbra, e sombra de sombra. Encostas a cabeça em meu ombro. Ao lado da cama, a mesa; sobre a mesa, alguma água engarrafada. Entre sono, sonho e insônia, falas a mim. Mobilia. O ventilador de teto não mais que promessa. Uma pergunta escapa-te pelos lábios...
Água que me escapa pelo rosto e a garrafa ao lado, intacta. A promessa de girar sobre si mesmo, ar se mova, tempo caminhe: a cama e nós, nós; permanece. Ventilador-sem-vento. O sono deita, enfim, sobre tuas pálpebras e apaga tudo, apagará. Não apaga que te o ar falta, nem ser difícil respirar: minha lembrança.
Eu sei, ela não lembrará: "Me deixarás partir, um dia?"
São Paulo, Agosto de 2016.
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