24 janeiro, 2018

Desabafo II


O lirismo está morto, e é bem-feito:
Vivesse um dia mais e eu me escondia
Detrás de um certo eu-lírico ou paisagem
Bem clichê, ou de noite enluarada --
Mais uma lua clara algum humor
Tremeluzindo. Ai, quem dera fugir!
Porém, não sou Noigandres... Poeto mal,
Fora de mim. O poemaquinal
Concreto, o não domino - é que o feijão
Me falta ao verso, e mais ainda a pedra
De João Cabral que feijão em si.
Juro que os fiz ler todos e aprecio!
Mas o antropófago em mim
Falha miseravelmente. Meu 'stômago
É fraco, acostumado -- os decassílabos!
Que eu poderia improvisar falando --;
Pífio, risível, tão lírico, tão
Demodé -- o galicismo, aqui, cai
Como uma luva. Ora, um poeta mais
Poeta menos... Arre, escrever!
Não leiam este excesso de poeta --
Falta poesia!... Leiam outros! Há
Cesário Verde há mais de séc'lo! Aqui,
Rien de nouveau, SAP: nada a acrescentar...
Eu bem já terminei meu desabafo.

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