08 janeiro, 2020

Uranium 235



Todos os dias, uns milhões de estrelas morrem.
Tem o universo uma cadeia elementar:
Tudo o que é precioso é puro pó de estrelas,
E também tudo o que é mais pobre.

Porém, eu sou capaz de em mim aproximar
Preciosidade de ouro e morte de pobreza,
Num corpo que dimana indiferentemente
O caos, que transita pelo ar.

Quem encontar-me por acaso há-de ter medo
E curiosidade, e, então, vir lentamente
Ao meu encontro. O meu abraço, devagar,
Há de mudá-lo. O meu segredo

É que ele morrerá mudando. Ele não sente:
O meu carinho move entranhas, faz brotar
Órgãos inexistentes, todavia inúteis.
Este é, contudo, o meu presente.

Sou raro, ah! E como o raro é sempre solitário...
Quisera eu ser como outras coisas, bem mais fúteis,
Que sempre encontram uso mais seguro. Opróbrio
É ser fatal. Porque o que é raro

Custa caro: verdade amarga deste mundo.
Eu vivo só do mal, o mal que sou eu próprio,
E que, ao viver, sou mais nocivo do que o ópio
E morto, eu peso como o chumbo.

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