27 abril, 2018

26, à toalete


"He knew the anguish of the marrow
The ague of the skeleton;
No contact possible to flesh
Allayed the fever of the bone"
T. S. Eliot

Hoje, mirei-me ao 'spelho e vi meus braços:
tão tímidos, meus ossos perfuravam-nos,
saltando aos olhos.

Braços assim, o que apertam? O que
deles não foge?

Depois, montei
a uma balança, e me o peso da vida
-- alívio! alívio! --
não compareceu; mas era-me a carne
a não pesar-me.

Logo desci da.
Senti-me aterrado, a cara nos chãos,
Como tivesse o rosto nos meus pés.

E era engolir-me o orgulho a cada passo;
E era o meu rastro
Lamber chãos; mover-se -- arrastar-se, em vez...

Mas a beleza das pernas, ao menos
(quanto durará?), disfarçava o horror
dos movimentos.
A beleza das mãos, o horror dos braços.

Mas a balança e o 'spelho não disfarçam,
medem sem comedimentos,
e, então, aos berros:
-- Jovem, definhas! Jovem, vais mofando!

E eu baixo os olhos -- olho as mãos, as pernas...

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