06 dezembro, 2018

Balada



Quereria ter um dia
mil-e-um poemas de cor
p'ra os recitar, em seguida,
sofra sede ou passe fome,
linha a linha, linha a linha,
mastigando cada estrofe.
Não beber senão poesia
por que logo venha a morte.

Diz-se que os corpos definham,
sem alimento, e consomem
a si mesmos: a farinha
e o próprio fermento. Sofrem
lentamente, enquanto findam,
mas minh'alma não comovem.
Eu só beberei poesia
por que logo venha a morte.

Diz-se de quem se resigna
assim: "é covarde", "foge".
Não sou. Não há outra sina
que essa à qual minh'alma corre;
um bom poema apazigua,
distrai-me, se tudo dói-me.
Eu só beberei poesia
por que logo venha a morte.

E quando olhos baços, frias
mãos, frios lábios, conforte-me
só ter bebido poesia
até viesse-me a morte.

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